27/04/2025 05:08

Ontem revi um daqueles filmes que me incomodam no bom sentido. Porque há cinema que tem a pretensão de incomodar os espectadores, levando a sétima arte muito para além do óbvio divertimento de massas.

Hotel Ruanda mostra-nos o genocídio que aconteceu no Ruanda em 1994 e que resultou na morte extermínio de mais de 1 milhão de pessoas e lembra-nos que tudo isto se passou sem que nós, os ocidentais senhores do mundo, mexessemos um dedo, a não ser para mudar de canal quando, à hora de jantar, as imagens passavam nos telejornais.

Mas o mais revoltante ridículo desta situação é que ficamos a saber que a guerra entre os Hutu e os Tutsi, as duas “etnias” em confronto no Ruanda, tem origem na estupidez dos colonos belgas que desbravaram aquelas paragens.

Estes senhores acharam por bem dividir os ruandeses em dois grupos: os mais bonitos (com traços físicos mais parecidos aos europeus) para um lado – os Tutsi – e os mais feios (ou mais africanos) para o outro – os Hutu.

A cereja no topo do bolo foi a decisão que estabeleceu que os bonitos seriam superiores aos feios e o constante incentivo ao confronto entre os dois grupos.

Os ocidentais e desenvolvidos belgas levaram a cabo, durante anos e anos, esta espécie de política da estética, uma corrente que atingiu o seu auge no início da década de 60, quando o Ruanda alcançou a sua independência e os belgas, num último acto de paternalidade, entregaram o poder aos Tutsi.

Tantos anos deste ódio artifical resultaram em constantes guerras civis e culminaram no citado genocídio ignorado pelas potências ocidentais.

Hotel Ruanda situa-se na Primavera de 1994, quando o assassinato do presidente do Ruanda, o general Hutu Juvenal Habyarimana, desencadeou uma guerra civil sangrenta. Durante 4 meses, os extremistas Hutu mataram mais de um milhão de Tutsi.

A história centra-se então no Hutu Paul Rusesabagina (sublimemente interpretado por Don Cheadle), o gerente de um hotel de luxo que durante esses dias conseguiu salvar a vida de mais de mil pessoas, a maioria delas Tutsis.

Apesar da mensagem de tolerância e esperança e do final feliz possível no meio desta insanidade, aconselho-vos a que vejam o filme com outra perpectiva: somos, de facto, o animal mais estúpido que existe à face da terra.

6 thoughts on “Um filme: Hotel Ruanda”
  1. Realmente, é verdade que somos um animal extremamente estúpido. Já dizia o Fish, numa cancão dos Marillion, descrevendo os horrores da guerra:

    “How can we justify?
    They call us civilized…”

    Temos muito que aprender para sermos civilizados.

  2. parece que vemos esse filme por aqui,em camara lenta mas o mesmo filme,nós povo brasileiro somos “divididos” em melhores e piores,superiores e inferiores,os “quase brancos” e os “quase pretos”,onde incentivados pelo cinema,tv,jornais,novelas,revistas de moda,dizem nas entrelinhas,que os quase brancos são melhores que os quase pretos,os quase brancos são parecidos com os europeus ou totalmente brancos,que invocam pra si a fama de civilizados,educados,cultos,mesmo que usem essa “inteligencia” cultura,civilidade para provocarem,incivilidade,guerras,violencia,discordias,tanto lá na africa como aqui nas americas,e o povo quase branco e o quase preto não percebem que são totalmente massa de manobra de uma política que visa dividir pra conquistar.

  3. Filme é muito bom!
    So alguns fatos errados!Os belgas não entregarma os poderes aos tutsis na indepedencia de ruanda e sim para os hutus e algo q não esta claro no filme foi que os 2 lados cometeram atrocidades.
    E o tal “final feliz possivel” aconteceu de verdade 😛
    Ruanda é um tema muito interessante onde tudo aconteceu foi culpa do agente externos desde a criação de uma xenofobia entre etnias praticamente iguais , até mesmo na destruição economica do país culpa do FMI tentando ajudar a crise e até mesmo da ajuda humanitaria em excesso q fez agricultores irem a falencia…

  4. Raphael,

    Os Tutsis foram sempre os líderes do país depois da independência e foram os próprios belgas que criaram esta situação.
    É essa a informação que o filme passa e que consta das diferentes fontes que consultei.

  5. Custodio,

    tente pesquisar outras fontes =)
    Em 1959 os hutus se revoltam e consequem autonomia do país e ja começam a persequir os tutsis.Persequição tutsi ja acontecia a muito tempo.Os belgas criaram a situação xenofobica entre as etnias no seu dominio colonial mas não foram responsaveis nenhuma hora, pos-independencia,por deixarem algum grupo no poder.Um texto (esta mais para uma reportagem) para vc pesquisar é entre irmãos de Vagner Augusto da Silva.O filme é genial mas vc não pode acreditar em tudo q assiste.Hotel ruanda mesmo é bem unilateral pq os hutus ficam como monstro e a parte q o exercito rebelde tutsi faz massacres ficam bem ofuscados.

  6. esse filme é realmente muito chocante bom o homem Paul foi muito corajoso em colocar todas aquelas pessoas que não tinham para onde ir naquele hotel

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