Elas Sou Eu – Teatro no Centro Cultural

Este sábado o Centro Cultural recebe, em mês de aniversário, um espectáculo de teatro que me atrevo a recomendar a todos os que gostam da arte de representar.
Elas Sou Eu – O que a gente não faz para pagar a renda? é uma comédia produzida pelo Teatro Novo do Brasil, escrita e interpretada por Eduardo Gaspar e encenada por Hugo Sovelas, o director da produção Terror e Miséria, do Blá Blá Blá .
Deixo-vos a sinopse completa e duas críticas para ver se vos aguço a curiosidade e vos dou um empurrãozinho para que no sábado possam ir ao teatro. Os bilhetes custam 3 Euros e já estão à venda.

SINOPSE

O que acontece quando uma empregada doméstica consegue convencer o seu patrão, na véspera de uma estreia, de que ele é um péssimo actor? Ele se mata? Despede a empregada por justa causa? Ou simplesmente deixa de aparecer no teatro dando, sem saber, oportunidade à empregada de tomar o seu lugar no espectáculo “Elas sou Eu – O que a gente não faz para pagar a renda”?
Esta é a história de Lucineide (nome da perigosa empregada), capaz de tudo para desencorajar o patrão só pela oportunidade de voltar a pisar um palco. Não tivesse ela sido actriz em tempos remotos; não tivesse ela a certeza de que talento é uma coisa que não se perde e de que, o sucesso é uma conjunção desse dom inato com uma grande dose de sorte e hoje ela seria uma estrela internacionalmente reconhecida. Mas Lucineide não teve sorte e agora está disposta a ir até as últimas consequências para se tornar uma actriz mundialmente famosa. Até mesmo a roubar o texto da peça, decorá-lo na calada da noite e ainda alterar por completo uma cena do espectáculo sem o menor arrependimento.
Assim é Lucineide, uma mulher frustrada que confessa ao público a sua decepção por ela, ao contrário das grandes estrelas, ter tido uma vida normal, sem nenhum acontecimento trágico que a tivesse deixado completamente abalada… E a maior das suas decepções é sem dúvida a de não carregar nenhum trauma de infância… Mas a vida de Lucineide não é feita só de decepções: Sonha poder reencontrar o grande amor da sua vida: um conhecido ídolo da música romântica por quem é perdidamente apaixonada.
Lucineide colocará à prova o seu talento, representando no espectáculo “Elas sou Eu” mulheres que, como ela, nunca deixam de sonhar e que são capazes das maiores artimanhas para realizarem os seus sonhos.
A primeira será a baiana Berenice, uma fogosa mulata de Salvador. Vendedora ambulante de brigadeiros que ficou ignorante ao abandonar a escola. A sua pior ignorância foi ter casado com Adalberto, seu companheiro de dezassete anos que, segundo ela, não era um marido e sim uma “ameba”. Para salvar o casamento, Adalberto resolve comprar, às prestações, um aparelho de vídeo, o que acaba por ser a sua ruína. Ao assistir a um filme alugado pelo marido, Berenice descobre que foi enganada pelo único homem que, até então, havia conhecido na intimidade. Separada de Adalberto, vive um tórrido romance com Edmundo, um negro de Benguela com quem irá partilhar as delícias da sétima arte.
Madame Pratiny é uma mulher da alta sociedade que tenta, a todo o custo, livrar-se do fantasma do seu marido. À revelia das filhas, Maria Cláudia e Maria Cleide, não mede esforços para concretizar o seu intento. Uma história sobrenatural que terá um fim trágico, graças à interferência de uma imigrante portuguesa, mulher de má vida, que está sempre a intrometer-se no caminho de Madame Pratiny.
Por fim, a misteriosa irmã Bondade, religiosa não por vocação, mas pelo desígnio do próprio nome, vive, segundo consta, pois nunca foi vista por ninguém, enclausurada num convento, algures em alguma parte do planeta. Sabe-se apenas que guarda consigo um segredo que jamais será desvendado…

CRÍTICAS

TÃO LINDA que ele é
Por Ana Maria Ribeiro | Correio da Manhã

Espectáculos em que actores homens interpretam personagens femininas têm o seu espaço próprio dentro da história teatral. Há muito quem goste de o fazer e mais ainda quem goste de o ver. Mas dentro do género há o bom, o mau e o muito mau. O espectáculo que Eduardo Gaspar acaba de estrear no Teatro da Trindade – onde estará só até ao próximo fim-de-semana – é, dentro do género, bastante conseguido. A sua primeira mais-valia é o desempenho do próprio actor, que é elegante a fazer de mulher e não exagera nos tiques femininos. Ou seja, não é – como a maioria dos que se atrevem a seguir este caminho – grotesco. Depois, para além da sua capacidade de mimar o sexo oposto, tem, de facto, graça e é bom no contacto directo com o público e na improvisação. O texto, que o próprio escreveu, serve-lhe de pretexto para dar corpo a quatro mulheres diferentes: uma candidata a actriz, chamada Lucineide e que teve um caso com Roberto Carlos (!); uma baiana que descobre o sexo através de filmes pornográficos; uma freira que nos fala da sua relação com Deus e uma mulher da alta sociedade que nos descreve a sua relação com o “status”. As temáticas de “Elas sou Eu” não vão muito longe, mas ninguém o exigiria: o que se pede a Eduardo Gaspar – e que ele cumpre – é que nos entretenha e faça rir durante duas horas.

ELAS são ele
Por Moema Silva | TV MAIS

“O que acontece quando uma empregada doméstica consegue convencer o seu patrão, às vésperas de uma estreia, de que ele é um péssimo actor?” É a partir desta situação que o brasileiro Eduardo Gaspar desenvolve a peça “Elas sou Eu”, com o subtítulo “O que a gente não faz para pagar a renda?”. Na pele de Lucineide, a serviçal que persegue o sonho de se transformar numa estrela – passando a dar autógrafos como Lucy Neyde, naturalmente -, o autor e intérprete desdobra-se em diversas personagens femininas (incluindo uma misteriosa freira que nunca foi vista).
A primeira é a fogosa baiana Berenice, que descobre prazeres desconhecidos através da Sétima Arte. A segunda é uma perua que se autodenomina Yolanda Pratini (essa mesmo, a vilã da novela “Dancin Days”) e anda às turras com uma vizinha, não por acaso, emigrante portuguesa. Mas a verdade é que quando elas surgem em cena, o público já foi conquistado pela esperteza de Lucineide. Ao desabafar as suas mágoas e ambições diante da plateia – confessando, inclusive, ser a musa inspiradora do maior ídolo popular da música do Brasil -, ela estabelece uma divertida relação de cumplicidade que chega à contracena, dando azo a situações espontâneas. A interacção é mesmo um dos pontos altos do espectáculo, mas só vale devido à habilidade do protagonista em aproveitar a sua vivência de vários anos em Portugal para pontuar o texto com uma série de referências que o actualizam a cada apresentação. Além de muito engraçado, Eduardo Gaspar é inteligente. Mistura subtilmente sexo, moda, esoterismo e romance, temas sempre caros ao universo feminino que procura recriar. E apesar de se mostrar travestido do início ao fim, consegue fugir por completo do estereótipo gay. Ele usa o corpo e a voz na medida certa para não parecer demasiado afectado e é tão bem sucedido nesse objectivo que, a dada altura, até nos esquecemos que quem está em palco não é uma mulher de verdade. “Elas sou Eu”, não sendo um projecto ambicioso (antes pelo contrário, assumindo-se como uma espécie de pocket-show), ainda assim merece destaque. Está em cartaz todas as quintas-feiras, às 21.30h. Tem tudo para se tornar uma comédia de culto e prolongar a temporada prevista até ao fim do mês na Sala Estúdio Mário Viegas do Teatro S.Luiz, em Lisboa.no espectáculo “Elas sou Eu – O que a gente não faz para pagar a renda”?

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